Para Conferir Louie



Procurar comédia em séries de TV é como navegar em um mar de shows sem inspiração, com conceitos antigos e piadas desgastadas. Quem domina o cenário são as sitcoms (The Big Bang Theory, Two and a Half Men, derivados), todos peixes velhos e/ou novatos com pouco a oferecer. Até Louie aparecer, isto é.

Todo crítico vive para experimentar algo novo. Aquele produto sensacional que desperta uma sensação de descoberta, foge dos clichês e quebra qualquer barreira que existia em nossas mentes. Louis C.K, um dos maiores nomes do stand-up no mundo, conseguiu esse feito ao criar uma comédia sincera e com um toque dramático, confiante e destemida o bastante para tocar em temas que muitos consideram proibidos com algo para adicionar, ao invés de ousar só por ousar.

Mas antes, vamos aos fatos. A série teve início em Junho de 2010 no FX, e atualmente carrega um total de vinte e seis episódios divididos entre duas temporadas. O intuito é fazer uma espécie de comentário social com base nas experiências vividas pelo criador, em um mundo real e surreal ao mesmo tempo. Não tem plateia rindo de qualquer cena ao vivo, não tem situações absurdas que não aconteçam fora da mente do personagem principal. O que está lá, está lá, tornando extremamente fácil se relacionar com o que está na tela.


A maioria dos episódios são separados em dois atos, e tratam das dificuldades de se encontrar solteiro e com duas filhas para criar depois de um casamento que durou mais de vinte anos. Louie não tem amigos, nem vida sexual, nem interesses. Ele está com 42 anos, está velho, não tem muito para aproveitar e precisa lidar com isso numa base diária (comendo sorvete e ficando gordo, aparentemente).

A grande sacada de C.K é conseguir alternar entre temas com uma sutileza impressionante. Um episódio pode começar falando sobre aviões e as frustrações que eles carregam e terminar com um monólogo sobre quanto tempo nosso suposto herói levaria pra transar com um macaco se descobrisse que era o último homem da face da Terra. Mais importante, isso nunca parece fora de lugar e nunca deixa de ser engraçado, contanto que você aceite o estilo diferente da direção.

Os assuntos têm uma aproximação mais solta do que de costume, na maioria das vezes com dois pedaços sem nenhuma conexão, como em "So Old/Playdate", e isso dá um fator surpresa que é difícil de encontrar nos concorrentes. Ele não tenta ser esperto, ele só é esperto de um modo estranho, e nem tudo é explicado aos mínimos detalhes para o telespectador. Em muitos momentos é a sua mente que precisa fazer o trabalho, de modo que você nunca se sinta confortável demais, sempre prosseguindo lentamente para ser pego de surpresa de novo.


Outro aspecto que ajuda Louie a se diferenciar é que cada tema sempre é tratado com um certo drama ou seriedade, por mais absurdo que seja. Sei que parece errado elogiar uma comédia que não procura sempre te fazer rir, mas existe algo refrescante em poder sentar, relaxar e rir nos momentos corretos sem ser bombardeado por alguma referência óbvia de minuto em minuto.

É uma pena que o primeiro capítulo não seja tão bom assim, já que todo mundo parecia um pouco travado e, consequentemente, sem graça, mas desse pronto pra frente não há um momento decepcionante ou fraco. Tanto que os quatro episódios iniciais da segunda temporada se mantém entre os mais bem avaliados de programas atuais no Metacritic, ficando atrás apenas do gigante Breaking Bad, de quem eu já falei em uma outra postagem.

Até onde prêmios vão, Louis foi nomeado para "Melhor Ator em Uma Série de Comédia" e "Melhor Roteiro para Série de Comédia" nos Emmy de 2011. Até onde eu sei ele ainda não está sendo exibido no Brasil, mas com pouco tempo de existência, deve ser fácil de encontrar ou acompanhar. Renovada, a terceira parte deve começar ainda esse ano, então vá se preparando...

Como não consegui achar a abertura na internet, fique com um vídeo aleatório. Até a próxima.

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