Análise - Disney Epic Mickey


Rapidinha
Gênero: Plataforma/Aventura
Desenvolvedora: Junction Point Studios
Plataforma: Nintendo Wii

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Você pinta como eu pinto?

Eu cresci como um grande, grande fã da Disney, principalmente do Mickey. Passava tardes e tardes assistindo seus antigos cartoons e ficando fascinado com o nível de criatividade que o personagem possuía. Ele era um icône, adorado tanto por crianças como adultos. Mas o fato é que Mickey não é mais o que costumava ser. O personagem foi infantilizado ao extremo, deixou de ser cômico e herói e se tornou um amigão da criançada, apenas mais um personagem infantil descartável com programas idiotas e nenhum jogo bom em recente memória. Ele perdeu sua glória. E é procurando resgatar essa glória que aparece Epic Mickey, jogo diferente com uma visão sombria e única. Será que ele consegue ou Mickey já passou de sua hora e deve, também, cair no esquecimento?

Acredite, essa imagem diz muita coisa sobre o jogo. Ou não. Sei lá.

Ah, Mickey.. Não consegue ficar sem fazer besteira. Dessa vez, o atrapalhado personagem acorda em uma manhã e entra na oficina de Yen Sid, que estava criando um mundo para personagens esquecidos e/ou rejeitados, Wasteland. Ao mexer um pouco com a magia do lugar, acaba criando um monstro, que destrói Wasteland por completo. Apavorado, o rato tenta consertar o que fez, mas só piora a situação. Então, foge e volta para seu quarto. Meses se passam e Mickey se esquece do que havia feito até que, enquanto dormia, é puxado para dentro de Wasteland - pelo monstro que havia criado. Ele acorda, conhece Gus, um gremlin, e tenta achar uma maneira de voltar pra casa. É claro que nem tudo é tão simples, pois Mickey também descobre que a cidade, agora destruída e atormentada, está daquele jeito por sua culpa, e que ele deve deter o monstro - chamado Shadow Blot - que ele tinha criado, antes de partir. Vários personagens aparecem ao longo da jornada, desde Smee e Capitão Gancho até Horace Horsecollar, e cada um tem algum tipo de pedido pra você. Logo, você tem duas opções: ajudar à todos que aparecem no seu caminho e gastar muito mais tempo do que o necessário, ou ser mais direto e fazer o que é preciso sem perder tempo. Cada escolha afeta o modo como as pessoas te tratam, a ordem dos acontecimentos e o final que você verá. Ajude à todos e ganhará um final bom, onde todos se dão bem e ficam felizes. Passe direto e conseguirá um final um pouco pior, com sonhos destruídos e personagens arruínados. Isso realmente dá uma bombada no fator replay, pois é muito interessante ver cada um dos finais, assim como os efeitos das diferentes escolhas que você faz ao longo do jogo. E a história ajuda ainda mais, pois traz personagens e acontecimentos extremamente bem desenvolvidos e pode ser considerada o melhor roteiro que o Wii viu esse ano.

Junto com muitos personagens, também vem muitas missões secundárias, e esse é um dos maiores problemas do jogo. Quase todos os moradores com quem você fala ou é obrigado a falar te dão algum tipo de missão, que ficam se acumulando ao ponto de que você acabe se esquecendo do que ainda precisa fazer. É super comum, por exemplo, ter mais de 5 missões ativas ao mesmo tempo, com cada uma exigindo que você vá para partes totalmente diferentes de Wasteland. Mickey parece um pau mandado e você fica o tempo todo buscando livros perdidos, ou procurando itens pra aquele personagem chato, ou cumprindo missões dentro das missões secundárias (?) pra tentar ganhar Power Sparks e finalmente avançar. Todo o entusiasmo que existia no começo do jogo se perde e ele logo se torna chato, e essas seções parecem intermináveis.

O bom é que quando elas finalmente terminam você pode jogar de verdade e experimentar o que o jogo realmente tem pra oferecer. A jogabilidade é baseada no uso de tinta e solvente. A tinta cria, o solvente apaga. Cada cenário principal possui uma quantidade gigantesca de caminhos alternativos que podem ser explorados usando a habilidade de cada um. Sabe aquela pedra que parece um pouco mais clara que as outras? É bem possível que tenha algum tesouro escondido atrás dela. E as decisões não param por aí, pois até o modo como você quer enfrentar os inimigos fica à sua escolha. Você pode simplesmente derrotá-los com o solvente ou usar a tinta para deixá-los amigáveis e fazer com que te ajudem. Você é obrigado a explorar se quiser seguir adiante e, embora a exploração seja divertida, os problemas aparecem quando se está pegando embalo...

Cartoons clássicos são recriados em fases clássicas com estilo clássico e gameplay clássico. Eita.
Então você está lá, depois de uma cutscene incrível e uma escalada insana ao topo da montanha. Até que chega seu amigão, Gus, e diz: "Mickey, pra abrir aquela porta teremos que encontrar 5 válvulas e ativá-las, é a única maneira". Ok, parece divertido. Até que você para, gira a câmera, olha o cenário e percebe que é uma montanha gigantesca. Ah, pronto, acabou a diversão. E missões desse tipo acontecem em TODOS os cenários. E os cenários são enormes, o que te leva a ficar incontáveis minutos procurando sem parar até encontrar tudo que é necessário para prosseguir. E, embora a jogabilidade funcione, não há quem aguente esse tipo de repetição. Repetição essa que não para por aí, pois até os cenários 2D, que são bons, se repetem várias e várias vezes. Eles são a "passagem" dos cenários. Se quer ir pra Ventureland ou Mickeyjunk, tem que passar por um deles. E você tem que ir e voltar muitas vezes, o que torna a repetição ainda maior. Por sorte, os controles são bons e o jogo sabe intercalar essas missões tediosas com um pouco de ação de verdade e uma história fascinante, então você raramente ficará entediado. E sim, a câmera tem vida própria e tende a sair do lugar, mas pode ser consertada. Fica a dica: aperte C para centralizá-la no personagem novamente. E, se estiver tendo problemas com ela durante uma luta, aperte e segure C para que ela fique centralizada no inimigo. Simples, não?

O que realmente cria uma experiência fantástica é o visual do jogo. Os gráficos definitivamente não são os mais bonitos do Wii, mas o nível de detalhes e as referências fazem todos os defeitos que eles poderiam ter insignificantes. Dá pra notar que cada cenário foi construído com um cuidado enorme e é isso que torna o jogo especial: ele transpira Disney por todos os poros. Cada personagem, cada cartoon, cada colecionável e cada cenário tornam ele obrigatório pra qualquer fã do rato e da Disney em si, e fazem todas as missões secundárias idiotas valerem à pena. Como foi prometido, não é aquela coisa infantil e o jogo possui um visual bem dark que, embora não chegue a dar medo e nem seja aquela coisa bizarra e distorcida que prometeram, é legal de se ver e dá uma idéia diferente de lugares e personagens já conhecidos. Nesse quesito, Epic Mickey realmente impressiona.

Por incrível que pareça, Oswald é mais legal que Mickey. Vamos torcer para que façam Epic Oswald agora.

Mas e o som? Mickey não é mudo como grande parte dos heróis de videogame, mas mesmo assim não diz nada no jogo. Bem, não com a voz pelo menos. Todos os diálogos são contados em legendas, e os personagens apenas fazem pequenos gemidos (não pense besteira, pervertido), que são suas "falas" no jogo. A trilha sonora varia conforme o lugar e a situação (ficando mais calma enquanto está na cidade, seguro, e mais agitada em momentos críticos) e, embora não seja aquela perfeição toda, é realmente muito boa. É incrível ver como conseguem fazer tanto com tão pouco, e dar carisma à personagens que nem mesmo soltam uma fala concreta ao longo do jogo.

É uma experiência imperdível para todos os fãs de Disney. Controles bons, cenários incrivelmente gigantes, exploração quase que infinita e um fator replay muito bom. Ótimo visual, gráficos inspiradores, uma grande quantidade de extras e personagens esquecidos no tempo. Mas a pergunta é: ele realmente consegue alcançar todo o hype que criou?

Weeee!

O jogo, infelizmente, não consegue alcançar a expectativa gerada. A visão de Warren Spector, muito mais sombria e paranóica deu lugar à algo mais amigável e livre. A habilidade com a tinta e o solvente é bem limitada e, diferente do que foi dito, você simplesmente não pode sair criando ou apagando o que quiser. Embora o mundo seja vivo e com vários moradores, muitos deles são iguais e não têm nada de interessante pra falar ou adicionar, e a confusão provavelmente vai tomar conta da sua mente quando houver mais de 10 missões acumuladas e nenhuma pista do que se deve fazer. E você, que só fala português e não tem a mínima noção de inglês, ficará parado nos primeiros 5 minutos de jogo, porque o conhecimento da língua se torna extremamente necessário se quiser prosseguir. Objetivos e gameplay repetitivos chegam a ser frustrantes, e tanta exploração, de vez em quando, pode irritar. Os combates não são mil maravilhas, também, e o caminho para pegar o final "bom" pode ser longo e estressante, o que resulta em atalhos que acabam te levando ao final "ruim" (como eu).

Mas é um fato que mesmo se esses problemas fossem multiplicados por mil não conseguiriam tirar a genialidade de Epic Mickey. O jogo consegue, com sucesso, trazer de volta o Mickey cômico e aventureiro de antes e resgata um pouco o espírito de herói do personagem. Relembra antigos personagens, tão bons, que caíram no esquecimento e que nem deveriam estar lá, rejeitados. E, o principal: consegue ter toda a magia que a Disney havia antes de se perder em séries como Hannah Montana e filmes como Camp Rock. É uma grande homenagem ao que a Disney já foi, e que talvez nunca mais venha a ser. E, nesse sentido, Epic Mickey realmente é épico.

O Veredicto
História: 9,5 - Antigos personagens relembrados e um roteiro interessantíssimo que fará o jogador ficar colado na TV, querendo chegar ao final do jogo. Coisa rara de ser vista no Wii.
Gráficos: 7,5 - Não são os melhores do Wii e podem ser bem feios em certos momentos, mas os cenários superdetalhados compensam esse tipo de problema.
Som: 8 - Mesmo sem vozes o jogo consegue fazer um trabalho competente nessa parte. Afinal, é Disney.
Gameplay: 7 - Funciona, mas é limitado e cheio de missões idiotas que poderiam ter sido tiradas. E não fariam falta. Sério.
Nota final: 8 - Muito bom. Recomendado!

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Confira um gameplay:



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Leonardo P.

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