Rapidinha
Gênero: Luta
Desenvolvedora: Capcom
Plataforma: PS3 |
Xbox 360
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Jogue o jogo no console, jogue o jogo na estante
Eu geralmente tento não criar uma grande expectativa em cima de nenhum jogo - o chamado hype - simplesmente porque nenhum título consegue alcançá-la. Alan Wake e Gran Turismo 5 são belos exemplos de jogos que fizeram um grande alarde, mas não entregaram o esperado. Vítimas do próprio sucesso, como eu gosto de chamar. Marvel vs Capcom 3 foi um desses: criou uma expectativa enorme e deixou milhares de fãs de jogos de luta/quadrinhos salivando ao redor do mundo, só pra acabar caindo numa armadilha que ele mesmo armou. Uma decepção, em poucas palavras.
Eu não preciso dizer que o segundo era fantástico, que era um dos melhores jogos de luta já feitos ou que as pessoas continuam jogando-o ainda hoje, dez anos depois. Você sabe disso. O erro de Marvel vs Capcom 3 foi dar a idéia de que seria algo ainda melhor do que isso, de que seria revolucionário. Os trailers mostravam Dante, Deadpool e Wesker em toda sua glória. Outros novatos, como Viewtiful Joe, Arthur e até mesmo Amaterasu prometiam, e o jogo era constantemente elogiado pelos sites espalhados pela internet. Eu mesmo não consigo dizer o quanto estava animado com o título. Até ele lançar. Marvel vs Capcom 3 é, em resumo, um jogo de luta vazio e sem muito conteúdo, divertido no tempo que dura, mas sem grandes atrações que garantam a sua volta - ou simplesmente justifiquem a compra do título.
O sistema de combate, parte mais importante de um jogo do gênero, recebeu uma repaginada. Ele ficou mais simples e amigável para os novatos, e esse é o primeiro e um dos principais problemas. Primeiro, o jogo está fácil demais. Jogue no modo Simple - que, aparentemente, foi feito pra pessoas com sérios problemas que mal sabem apertar um botão - e você vai fazer combos fantásticos, usar especiais e acabar com todos os inimigos... sem fazer praticamente nada. Eu não acho ruim que o jogo tente atrair um novo público, mas é uma maneira ridícula de fazer isso. É como se subestimassem os jogadores, eu não creio que ninguém jamais precisaria daquele modo pra conseguir jogar - à não ser que você seja uma criança com menos de 5 anos, mas isso é outra história.
E então temos o modo Normal que, aparentemente, deveria ser normal. Mas acontece que ele também é fácil demais. Primeiro, você só tem três ou quatro botões de ataque. Você pode fazer combinações, chamar seus amigos e usar os ataques extremamente exagerados que cobrem a tela inteira - embora causem mais dor de cabeça do que dano no oponente. Mas continua fácil demais, nada é complicado, é um sistema sem profundidade. Apertando um botão você faz um especial triplo super exagerado e acaba com todo mundo. Pra exemplificar, eu decidi deixar minha irmã, de 8 anos, jogar comigo. Ela foi capaz não apenas de fazer combos normais, mas também aéreos e até mesmo usar os especiais. O que dizer?
Além disso, o jogo é desequilibrado. Quer vencer todas? Fácil, pegue o Sentinela, aprenda um combo com ele e nada mais ficará no seu caminho. O mesmo se aplica para outros personagens, como o Wesker. A variedade de personagens, que deveria ser boa, acaba tendo um efeito contrário. Você só vai ter dificuldades com o jogo se nunca tiver pego um controle antes. E não, isso não é um exagero. Pra falar a verdade, acho que é possível ganhar mesmo sem saber o que um videogame é - é pra isso que existe o modo Simple, no fim das contas.
De fato, o jogo todo é um vazio. Você pode ir no Arcade, Online, Training, Versus e... bem, é isso. O jogo não tem nenhum modo adicional realmente interessante. Ao invés disso, tem uma galeria capenga onde você pode ver o modelo dos personagens e visualizar informações óbvias e até mesmo absurdas (segundo o jogo, Arthur, de Ghosts 'n Goblins, é mais inteligente e mais forte que Spider-Man). Nada garante um fator replay extenso como o do segundo jogo, e ele perde a graça antes que comece a ter alguma. Mesmos cenários, mesmos adversários, mesmos ataques toda hora. Ele diverte durante alguns minutos, mas não dura muito até ser deixado de lado.
Ainda nesse ponto, é bom olhar para o elenco de personagens. Cerca de 56 faziam parte do jogo anterior, e agora foram reduzidos para 36, se não me engano. Desses 36, mais da metade não apresentam nada novo. Aqueles como Spider-Man ou Captain America, de jogos anteriores, continuam a mesma coisa, e alguns dos novatos, como Viewtiful Joe e Zero, foram arrancados na cara dura de Tatsunoko vs Capcom (sendo que até mesmo Ryu, presente nas outras versões, foi tirado de TvC). O jogo não mostra nada além do que já tinha sido visto há 10 anos atrás, salvo algumas exceções. Além disso, ele deixa muitos personagens bons de fora e aposta em outros que ninguém - repito, ninguém - queria. Eu, pelo menos, não lembro de ter visto alguém chorando para a X-23 ou a She Hulk estarem no jogo.
O jogo aposta num visual diferente e tenta dar a impressão de "quadrinho vivo", de algo que saiu das páginas de uma HQ. É um visual bonito, isso eu não posso negar. Apesar de alguns modelos feios (como o de Amaterasu), a maioria dos personagens são bem modelados e os cenários cheios de detalhes. É difícil, no entanto, seguir toda a ação que está acontecendo na tela. O jogo fica uma bagunça quando um especial triplo está sendo executado ao mesmo tempo em que um arco-íris se move ao fundo do cenário e os pássaros voam acima de uma rajada gigantesca de energia com o oponente invisível no meio de tudo aquilo.
Mas um jogo de luta precisa divertir e, nessa parte, eu aprecio o esforço de Marvel vs Capcom 3. Ele tenta, de verdade. Ele traz personagens conhecidinhos, especiais totalmente bizarros, um visual bonito e um sistema online. Eu não diria que Marvel vs Capcom 3 merece ser a continuação do segundo título - ele se distancia demais do mesmo. Eu não diria, também, que ele é um dos melhores jogos de luta da geração. Pra ser sincero, eu não sei o que eu diria. E é nessas horas, quando parece difícil encontrar algum elogio pra fazer ao título, que você percebe que algo realmente está errado.
Eu sinto como se todo mundo estivesse sendo pago pra falar tão bem sobre o jogo. Ele simplesmente não merece. Marvel vs Capcom 3 é um bom passatempo, e vai te divertir por uns dois ou três dias antes de ficar jogado na estante e você voltar para Super Street Fighter IV. Para os fãs mais hardcore (fanboys) ele vai valer à pena, mas para o resto do pessoal, sai mais em conta alugar ou pegar emprestado do que gastar todo seu dinheiro no título. Talvez mais personagens sejam incluídos por DLC, talvez os problemas sejam solucionados por updates, talvez o jogo melhore no futuro, mas isso não me importa. Marvel vs Capcom 3 deve ser julgado como é e, sendo como é, não vale à pena.
O Veredicto
Gráficos: 8 - Bonitinhos, mas confusos. Além disso, alguns personagens têm modelos simples demais e/ou feios demais.
Som: 8,5 - Personagens bem dublados, frases legais e algumas provocações maneirinhas. Nada demais, no entanto.
Gameplay: 6,5 - Faça algo estupidamente fácil para atrair os novos jogadores, mesmo que a franquia seja amada pelos antigos. Quem liga, né?
Nota final: 7.6 - Bom.
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Confira um gameplay do jogo:
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Leonardo P.